Translate

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O Tempo



Histórias talhadas em sulcos de lágrimas e sorrisos
Escritas à ferrugem, bolor e restos de tinta
O tempo lentamente desenha seus caminhos e
Como a esfinge, nos desafia:
Decifra-me ou devoro-te...
_________________________________
O que se houve Além da Porteira:


Oração ao tempo


És um senhor tão bonito                            De modo que o meu espírito

Quanto a cara do meu filho
                       Ganhe um brilho definido

Tempo tempo tempo tempo
                       Tempo tempo tempo tempo

Vou te fazer um pedido
                              E eu espalhe benefícios

Tempo tempo tempo tempo...                    Tempo tempo tempo tempo...

Compositor de destinos                              O que usaremos pra isso


Tambor de todos os rítmos
                         Fica guardado em sigilo  
Tempo tempo tempo tempo
                       Tempo tempo tempo tempo

Entro num acordo contigo                          Apenas contigo e comigo


Tempo tempo tempo tempo...                    Tempo tempo tempo tempo...

Por seres tão inventivo
                               E quando eu tiver saído
E pareceres contínuo                                  Para fora do teu círculo


Tempo tempo tempo tempo
                       Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
                  Não serei nem terás sido

Tempo tempo tempo tempo...                    Tempo tempo tempo tempo...

Que sejas ainda mais vivo
                        Ainda assim acredito

No som do meu estribilho
                         Ser possível reunirmo-nos

Tempo tempo tempo tempo
                      Tempo tempo tempo tempo

Ouve bem o que te digo
                            Num outro nível de vínculo

Tempo tempo tempo tempo...                   Tempo tempo tempo tempo...

Peço-te o prazer legítimo
                           Portanto peço-te aquilo

E o movimento preciso
                              E te ofereço elogios

Tempo tempo tempo tempo
                      Tempo tempo tempo tempo

Quando o tempo for propício
                    Nas rimas do meu estilo

Tempo tempo tempo tempo...                   Tempo tempo tempo tempo...

(Caetano Veloso)






Todas as fotos acima foram feitas na Vila Maria Zélia, primeira vila operária de São Paulo. A vila, no bairro do Belenzinho, abrigava imigrantes que vieram pra cá no início do século XX em busca de tempos melhores.
Entre ruínas e casas bem conservadas, onde ainda vivem famílias descendentes dos imigrantes que fundaram a vila, o velho vive em harmonia com o novo. As histórias de famílias inteiras são contadas de geração em geração e permanecem vivas nos vestígios deixados pelo tempo.

14 comentários:

  1. Demais, Ju. Lindas fotos. Texto perfeito pra acompanhar. Tempo, tempo, tempo. Bjos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom que gostou Ju...
      A gente chega aos 40 e passa a pensar mais no "Tempo, tempo, tempo..." e o que fazemos dele... ;o)
      Beijo grande!

      Excluir
  2. Ju...bonito demais! Olha que mágico: essa coisa do "decifra-me ou te devoro" esteve presente lá no "Do lado de cá" também. Eu acho o máximo essas aproximações poéticas...

    Eu tô completamente apaixonada por tuas fotografias! Vontade de sair por aí clicando o mundo, mas sei que olhos sensíveis como os teus são joias raras!

    Bjo, bjo, bjo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olha só Dani... aproximação poética com o "Do lado de cá" me deixa até com a bola cheia...
      Que bom que gosta das fotos... é uma paixão mesmo... Sair por aí clicando o mundo é um vício que não acaba mais e é também um convite a reinventar o olhar, a ver o mundo nos pequenos detalhes de forma diferente... Pra mim, um desafio.
      Obrigada pelo carinho Dani...
      Beijos saudosos

      Excluir
  3. Ju,

    estas fotos, mais do que lindas, têm alma... e isso faz toda a diferença, é o que nos arrepia, nos comove...
    Adoro imagens que me causam inquietação, que se movem dentro de mim, como as tuas :)

    e o tempo... ah, o tempo... nos morde e nos lambe, mas sempre nos esculpe. E o que esculpe também desgasta...

    beijos e uma linda semana pra ti!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Déa,

      Fico muito feliz que goste das fotos... Imagens contam histórias, despertam sentimentos e sensações... Há um universo escondido por trás de cada imagem e não são todos que se conectam com esse "outro lado" da fotografia.
      É preciso ser poeta. E isso você é de sobra...
      E que linda e poética imagem essa: o tempo de nos morde e nos lambe, mas nos esculpe... e também desgasta. Gostei demais.

      Beijo grande e ótima semana procê também

      Excluir
  4. Juliana, obrigada pela visita ao meu blog e pelo seu olhar atencioso e gentil... aqui é simplesmente lindo! As imagens e palavras se complementam, e como se não bastasse, ainda chego nesta postagem com a Oração ao Tempo do Caetano, da qual sou apaixonada :)
    Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Mercedes, fico muito feliz que tenha gostado...
      É nossa essa casa de voar...
      Também adoro "Oração ao Tempo" ;o)
      Enquanto fazia esse passeio na Vila Maria Zélia, fui cantarolando a música, internamente. Tudo ali me fazia pensar no Tempo.
      Seja sempre muito bem-vinda por aqui, adorei a visita.
      Beijos

      Excluir
  5. bela sequência de olhares sobre pontos que escurecem, crispam, envelhecem, mas em respiração contínua, porque o tempo dos afetos estende-se para além da física.

    beijinho!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Jorge, pelo seu olhar poético...
      Sim, os afetos tem essa magia de pregar peças no tempo.
      A despeito dele, criam vida própria e se tornam mais fortes enquanto tudo o mais envelhece...

      Beijo!

      Excluir
  6. Juliana, fotos com bocas e dentes e línguas. Escuto os sons, os suspiros e as respirações.
    Beijoss :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lugar mágico esse, Lelena...
      cada pedaço de madeira, cada rachadura, cada tijolo... tudo fala.
      E é história que não acaba mais.
      Beijo procê

      Excluir
  7. O que fazer com o tempo? Deixo com o próprio TEMPO. Nunca o vejo como um inimigo, mas, como um ALIADO, que rascunha aqui, desenha ali, retoca acolá.

    Adorei as fotos, Juliana! São Paulo é imensa, não cabe mesmo na palma da mão e suas ruas devem ter muitas histórias do TEMPO, para contar.

    Um abraço aqui do Cariri cearense,
    Tânia Peixoto

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tânia querida,

      Essa é a grande lição que a vida nos dá... ter o tempo como aliado. É uma arte...
      Só assim é possível saborear cada minuto...
      Que bom que gostou das fotos. Fiquei encantada com essa vila - me senti transportada no tempo. É um lugar mágico.
      Beijo grande pra você e pro Cariri ;o)

      Excluir